Quem sou eu?
O dia estava chuvoso. O céu cinza. A brisa fria e calma. O vento é suave e fresco. Fresco talvez seja uma palavra um pouco inadequada, já que estão fazendo 5 graus. Mas a sensação é de fresco, um frescor. A chuva fria toca a minha pele da face tão gentilmente que é delicioso o seu toque. E eu amo caminhar por essa linda experiência que a natureza tinha preparada para essa tarde. Uma perfeição sem tamanhos que é incapaz de distinguir um bom tempo de mau tempo.
E é claro que nossos amigos humanos adoram dizer que é um mau tempo. Eu e a minha versão bem perspicaz da vida insistimos em perceber esse dia como mais um incrível dia para se viver a vida. Talvez, se eu não estivesse nessa forma humana, eu não respiraria esse ar. Eu não sentiria o toque da chuva. Eu não sentiria a brisa desse vento. E talvez, só talvez, um dia isso era tudo o que eu queria ter. Uma experiência física nesse mundão lindão. E tudo o que eu falo é sobre mim. É sobre como eu percebo a minha vida.
Chegando em casa, uma mensagem inesperada da minha irmã me chamou no whatsapp.
- Carol, você poderia escrever sobre mim? Minha psicóloga sugeriu para que as pessoas próximas a mim escrevessem sobre quem sou eu.
- Sim. Claro.
Eu posso escrever sobre você. Mas saiba que jamais escreveria sobre você. Eu te vejo com meus olhos. Eu penso em você com meus pensamentos. Eu vejo em você os reflexos das histórias que vivi. O que penso de você jamais poderia ser sobre você. Tudo o que penso sobre você, é sempre sobre mim.
Pensei em uma palavra que poderia te transmitir. Pensei em histórias que já vivemos. E me deparei em mais um paradoxo: tão injusto escrever sobre quem você já foi.
Eu sei que nossos amigos humanos adoram falar das pessoas de uma forma tão rígida quanto os quatro cantos de um quadrado. Quadrados. Rígidos. Como se cada pessoa fosse exatamente o que pensam deles. Como se cada um fosse para sempre o que pensam deles.
E ainda se gabam de serem brilhantes. Tolos.
Ainda assim, continuei a pensar em como te dizer o que eu penso sobre quem é você. E logo lembrei que nós duas sempre tivemos um apaixonante interesse por filosofia. Tão lindo o estudo da vida. Mas nos ensinaram a história da filosofia. Não foi nos ensinados a viver a filosofia.
Conhece a ti mesmo.
Tão brilhante! Conhece a ti mesmo. Eu só consigo a conhecer a mim mesma. Portanto, conhece a ti mesmo. Portanto, minha irmã, eu vou te contar como eu conheci a mim mesma.